Friday 4 September 2009

o vermelho e o amarelo da cidade verde

Londres é uma cidade verde. Nenhum outro grande centro urbano no mundo tem parques tão numerosos e amplos. Onde quer que você esteja em Londres, o mais provável é que alguma grande área verde está por perto. Alguns desses parques têm um efeito mágico sobre as pessoas que vêm a eles. É uma quebra repentina. A aridez urbana, com suas fileiras de casas de tijolo, dá lugar a bosques, áreas abertas, horizontes na distância, silêncio e barulho de pássaros. E Londres é também uma cidade altamente arborizada. Portanto, quando chega o outono, um discreto show pirotécnico desenrola-se diante dos olhos acostumados da população ultra-heterogênea da cidade.

A cidade que um dia fora verde, começa a ser submetida a uma metamorfose. Primeiro as extremidades das folhas nas copas de algumas árvores tornam-se marrons, como se estivessem gangrenadas. Mas depois elas tornam-se vermelhas e amarelas, e começam a cair. As calçadas ganham um interminável tapete de folhas mortas. Mais adiante no tempo, depois que a primeira nevasca de folhas foi removida por homens com aspiradores gigantes, ou jatos de ar que amontoam os cadáveres vegetais, o amarelo de algumas árvores revela-se; e tão intensamente que é como se abajures de Itu houvessem sido instalados nas ruas. Enquanto isso a chuva cai.

A chuva cai e os dias se encurtam. É como se o sol estivesse de mal com a cidade, e não vinha mais visitar, preferindo passar longe, sem um sorriso, sem um olhar, e olhando em alguma outra direção. O céu tornando-se uma manta de lã cinza. Mas, para bons observadores, um fenômeno mais encorajador também ocorre.

Imagina você indo a algum lugar e um parque londrino te oferece um atalho. Não é mais necessário andar até a esquina lá longe e virar à esquerda e andar outro quarteirão de tijolos e argamassa. O parque tem um caminho mais curto. Chove, ou vai chover, ou acabou de parar de chover. Você passa pelo portão antigo de ferro pintado de preto. Você está dentro do parque, a ponto de compreender que a luz do sol, assim como as folhas das árvores, também andou caindo e caindo. O chão do parque está iluminado, mas a luz é um corpo morto, menos do que brasa. É luz completamente fria. A luz dos dias de verão havia caido nas folhas e descido com elas ao chão do parque. Fora como uma mudança de pele do sol. A luz do sol imerge dentro do solo. O solo engole a luz morta do sol, que continua de mal e logo irá passar ainda mais longe. Quando o inverno chegar a luz terá completamente desaparecido, junto com todas as folhas do ano. A luz que você vê é uma ilusão, uma sombra. Mas no ano que vem a luz retorna na vinda da primavera; o sol esqueceu a mágoa, e a luz também volta de dentro da terra, com todas as cores que eram brancas. Isso também acontece.

4 comments:

  1. Concordo e digo que minhas vezes em Londres foram sempre com muito sol e tardes impagáveis no Hyde Park.
    Abs,
    RL

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  2. Senti-me caminhando por Londres e vivendo o seu belo texto.
    Bjs

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  3. Estou feliz por poder te acompanhar em Londres.
    Bjs

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  4. Querido André! Que bom te "ver" por aqui... adoro o que vc escreve. Com certeza vou te acompanhar.
    Vc descreve Londres tão bem que parece que já estive aí.
    Beijinhos

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