Tuesday 8 September 2009

da falta de assunto

Quando eu decidi começar este blog, minha proposta era escrever uma postagem por dia. Tempo não seria problema, porque tenho uma tendência de acordar mais cedo do que preciso. Vontade também não falta. Escrever me dá prazer e eu gosto de ver uma nova postagem no meu blog. É a satisfação de realizar um pequeno trabalho do começo ao fim, como fazer um bolo ou lavar o carro. Mas quando sentei em frente ao laptop para escrever minha próxima postagem encontrei-me diante de um terrível empecilho: falta de assunto. Eu não tinha nada sobre o que escrever. Falta de assunto é, por necessidade, o assunto desta postagem.

Falta de assunto é a base de muitos setores da economia. Culto de celebridade é falta de assunto levada às últimas conseqüências. A manchete de hoje na primeira página do tablóide britânico The Mirror, que é um dos que têm maior circulação no país, é o divórcio de Katie e Peter. Katie Price, também conhecida como Jordan, é uma jovem com um rosto relativamente comum e seios que parece que vão estourar a qualquer momento de tão siliconizados. Peter é Peter Andre, um cantor pop. Acho que Peter Andre é australiano, mas não tenho certeza, e tampouco consigo forçar-me a procurar saber. Acho que os dois se conehceram no programa Big Brother, que é, por sua vez, um tipo de orgia de falta de assunto. Nunca nada com um grão de relevância chega perto de ser um assunto na casa onde o programa é filmado. Devo confessar que não assisto Big Brother, e que portanto pode ser que esteja errado, mas acredito que se Big Brother quebrasse a barreira da falta de assunto a imprensa não deixaria de anunciar. Todas as notícias do Big Brother são voluptuosamente triviais, e poucas coisas vendem mais tablóides, que são os jornais de maior circulação no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte.

Um assunto que à primeira vista tem aparência de assunto é política brasileira. Não vivo no Brasil e não costumo ler jornais brasileiros regularmente, mas basta uma ou duas notícias para ver que uma característica intrigante de nossa república segue inalterada: nossa república não é uma república. Não lembro das palavras exatas, mas aparentemente o beletrista e imortal senador José Sarney, ao ser contactado acho que por sua neta com relação a um posto público para seu xodó, disse que a moça não deveria se preocupar: um posto público já pertence ou está com sua família desde tempos imemoriais. É como se o cara tivesse aproveitando a oportunidade pra contar vantagem. E o pior é que parece que é verdade. Enfim, o senador, depois de uma quantidade suficiente de tempo ter passado, em que o fato foi levado ao conhecimento do país inteiro, continua senador. Não me espantaria se o tal posto público também continuasse com (ou na) família. Quando questionado, o presidente disse que não tinha nada a dizer. Assunto de família. Resumindo, o representante máximo da coisa pública brasileira não tem nada a dizer sobre o abuso da coisa pública brasileira – sobre o abuso do interesse público brasileiro, em português claro.

A república brasileira é e sempre foi uma contradição em termos. Zero em termos de assunto. Não quero transformar isso num assunto.

O outro aspecto interessante da falta de assunto é que falta de assunto encontra assunto em sua falta. A gente se apega a palavras e tudo bem.

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